quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

O mundo negro também é nossa paróquia

O Mundo é minha paróquia

“O mundo é minha paróquia", esta frase de Wesley nos inspira a afirmar que neste mês de novembro para nós metodistas: "O mundo negro também é nossa paróquia".

Neste tempo sua igreja pode oportunizar momentos de reflexão para conhecer e ir ao encontro das questões que afetam o povo negro.

O tema que elegemos como Ministério AA-AFRO-3RE é JUVENTUDE NEGRA: mutilada pelas forças dos preconceitos e vulnerável à violência e à criminalidade é o eixo das nossas reflexões, orações e ações.

As organizações de defesa dos Direitos humanos denunciam que está ocorrendo no Brasil um genocídio da Juventude negra. Eis alguns dados:

• A juventude negra consumida pelas forças da exclusão social tem encontrado lugar na periferia das periferias. Nas periferias das escolas, das escolas profissionais e técnicas, das universidades, do mercado de trabalho, dos espaços culturais e de lazer, do sistema de saúde.
• A maioria das mortes por assassinatos é de jovens negros, na faixa de 15 a 24 anos.
• A gravidez precoce ocorre em maior proporção às meninas negras.
• A abordagem policial é racializada e o perfil é o homem negro, ou seja, os jovens negros são mais abordados nas ruas pela polícia do que os jovens brancos.

A exclusão educacional e do trabalho contribui para a marginalidade e sedução das organizações criminosas como também para a ausência de melhores perspectivas de vidas.

As políticas públicas de ações afirmativas para estudantes negros/as é um dos instrumentos de reparação – com 120 anos de atraso - desta situação decorrente da ausência de políticas positivas que deveriam acompanhar a Lei que institui a abolição da escravatura.

Jovens negros/as lutam a cada momento para vencer os desafios impostos por uma sociedade racista e preconceituosa. Alguns, poucos, conseguem entrar e se manter nas escolas e nas universidades. Alguns poucos conseguem um trabalho e salário de melhor qualidade.

A Igreja Metodista pode ser uma voz que anuncia boas novas a esta juventude, pode ser a voz de incentivo e apoio a inclusão educacional da juventude negra.

Não perca esta oportunidade. Proponha atividades voltadas para a conscientização da Igreja sobre sua responsabilidade social e espiritual para com a população negra. Ir ao encontro das questões que afetam o povo negro e declarar que “O mundo negro também é nossa paróquia".

Texto de:
Diná da S. Branchini
Telma Cezar Martins

Fonte: http://3re.metodista.org.br/conteudo.xhtml?c=9545

Tragédia no Haiti

A notícia do terremoto que arrasou o Haiti no último dia 12 de janeiro de 2010, especialmente, a capital, Porto Príncipe, chegou fortemente em minha vida. Estive no Haiti há cerca de cinco anos compondo uma comitiva internacional denominada: “Missão de Paz”, sob a liderança de Adolfo Esquivel - Prêmio Nobel da Paz – e, nesse sentido, percorri os principais espaços políticos e sociais desta nação que vem sofrendo há anos uma qualidade de vida subumana.
Foi uma viagem marcante, em especial, pelas experiências adquiridas com esse povo sofrido, mas esperançoso com um dia melhor.

Igualmente, ouvindo os segmentos representativos do país sobre a sua história, de maneira especial, as intervenções, ocupações, o embargo político e intelectual e, nessa esteira, comprometendo a chamada autodeterminação dos povos.

Tenho na minha memória as crianças pelas ruas da cidade à procura de um pedaço de alimento, o impacto da visita aos presídios da capital, a insegurança do povo andando pelas ruas ao som dos tiros disparados, a ansiedade da juventude na busca de uma melhor qualidade educacional e, ainda, a rede hospitalar insuficiente para atender às necessidades básicas da população. Há muita gente morrendo antes da hora e, ainda, uma população marginalizada e sem a dignidade de sua cidadania.

Assim sendo, deparei-me com um título de uma reportagem num dos jornais de grande circulação nacional: “O Haiti já estava de joelhos; agora, está prostrado”. Realmente, este é o cenário deste país que sofre a profunda dor do apagamento de mais de 150 mil pessoas e incontável número de feridos e, do mesmo modo, com uma profunda sensação do desaparecimento de uma nação.

A tragédia registrou a morte de lideranças internacionais importantes que estavam lá prestando solidariedade ao povo haitiano e buscando intensificar parcerias para uma melhor qualidade de vida pessoal, social e ambiental para esse povo. Entre elas destacam-se a médica Dra. Zilda Arns Neumann, idealizadora e coordenadora da Pastoral da Criança e, ultimamente, Coordenadora Nacional da Pastoral da Pessoa Idosa e dois líderes metodistas em missão no Haiti: o Reverendo Dr. Sam Dixon, diretor da Agência de Socorro Humanitário da Igreja Unida (UNCOR) e o Reverendo Clint Rabb, Coordenador dos Voluntários em Missão da Igreja Metodista Unida.
Ainda no ardor dessa tragédia algumas rápidas considerações:

a) Num desastre com essa proporção muitas são as interpretações apocalípticas sobre a tragédia.Devemos ter muito cuidado com as explanações teológicas que estão sendo dadas a esse acontecimento e, na verdade, muitos cercados de preconceitos e descaracterizando o fundamento bíblico do Deus da justiça, da paz, da reconciliação e mesmo com as contingências humanas é o Deus que revela em Jesus Cristo o seu amor à humanidade. Foi muito oportuna a reflexão do Pr. Ricardo Gondim quando ele sublinha: “acredito em um Deus que se relaciona com a humanidade em outras bases. Deus é amor. A bonança e a tempestade são elementos da contingência, espaços para a liberdade. Não creio na teologia da Providência. Aceito que Deus amorosamente participa nas iniciativas de bondade e nos movimentos de justiça que um cataclismo possa desencadear. Não imagino que o Deus de Jesus Cristo possa estar por detrás de um acidente tão horrendo. Ele é luz e interpela homens e mulheres de bem que se façam presentes na catástrofe, minorando o sofrimento dos pobres. Descreio das lógicas que transformam os pensamentos divinos em maldição, Deus é o Deus da paz.”

b) Assim sendo, é quase impossível encontrar palavras para apresentar a tragédia no território haitiano. As notícias que chegam e as imagens que são exibidas dão conta da profunda agonia e do total estado de caos da população no Haiti. Comentando sobre o terremoto no Haiti, o Pr. Israel Belo de Azevedo, em sua mensagem “Prazer da Palavra” de 21 de janeiro de 2010 diz assim: “A chamada “peste negra” devastou a Inglaterra no começo do século 17. De seu escritório na igreja, o pastor John Donne (1572-1631) via os corpos sendo carregados para serem sepultados em valas comuns, como no Haiti de 2010. Então escreveu:

“Nenhum homem é uma ilha plena em si mesma. Cada homem é uma parte do continente, uma parte do todo. Se uma porção de terra é levada pelo mar, a Europa é levada, como se um penhasco fosse, como se a casa dos teus amigos ou a tua própria fosse. Toda a morte humana me diminui, porque sou parte da humanidade. Então, não queiram saber por quem os sinos dobram: eles dobram por ti” (John Donne – Devotions Upon EmergentOccasions, 1623).

c) No cenário dessa agonia, uma luz brilha, ou seja, a luz da solidariedade de agências humanitárias, ONGs, Igrejas, empresas, voluntários se apresentando de toda a parte do mundo, governos etc. se articulam para oferecer ao povo haitiano a dignidade da vida. Com certeza, somente a solidariedade ativa poderá tirar o povo dessa prostração e colocá-lo em pé para sonhar com o novo dia.

Nessa perspectiva, o povo chamado metodista está sendo convocado para participar desse movimento de solidariedade em favor do povo haitiano e a reconstrução desse País.
Igualmente, reafirmamos a nossa confiança na graça transformadora de Deus, mesmo diante da ambigüidade da vida.
Em oração em favor dessa nação.
Com fé, esperança, solidariedade e amor.

Adriel de Souza Maia - Bispo na 3ª Região Eclesiástica

Fonte: http://www.metodista.org.br/index.jsp?conteudo=9771

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Coisas estranhas

No domingo do Carnaval assisti “O Estranho Caso de Benjamin Button” – filme que conta a vida de um sujeito que nasce envelhecido e com o passar do tempo rejuvenesce. A bizarra história deste homem que vive uma vida inversa no tempo, até virar bebê e morrer no colo da mulher amada, faz a gente ver que é melhor assim, nascer novo e morrer velho. Diferente da propaganda que passa a idéia da eterna juventude. Por isto tanta gente de corpo sarado mas lelé da cuca. Não que seja errado proteger-se do envelhecimento. Mas chega a hora que nenhuma mágica, botox ou plástica resolve. E daí a realidade do Salmo 90: “Só vivemos uns setenta anos, e os mais fortes chegam aos oitenta, mas esses anos só trazem canseira e aflições” (v.10).

Por isto a oração neste salmo: “Senhor, faze com que saibamos como são poucos os dias da nossa vida para que tenhamos um coração sábio” (v.12). No entanto, por ser a vida curta, muita gente faz o contrário – deixa de ter um coração sábio. E tenta aproveitar o que pode de Carnaval a Carnaval, sem se dar conta que o obeso Momo deixa na avenida as cinzas de inconseqüências, insanidades, loucuras. Mas ele faz o que lhe compete, pois, segundo a mitologia grega o deus Momo foi expulso do Olimpo para ser na Terra o rei dos loucos e zombar dos humanos. Foi isto outra vez neste trágico feriadão.

E então outra estranheza: as Cinzas após o Carnaval – esse período religioso da Quaresma que contempla um rei coroado no Calvário. Não é uma absurda contrariedade? A festa da folia versus a contemplação da cruz? Não é esquisita a coroa da glória na cabeça do rei da loucura, enquanto a coroa de espinhos ferindo aquele que espontaneamente envelhece para oferecer nova vida? Não é maluquice o deus zombador escolhido como anfitrião do maior espetáculo da Terra, enquanto o Senhor da Terra ser zombado e rejeitado? Troca-se o duradouro pelo fugaz, a eternidade pela finitude.

Mas o apóstolo Paulo reconhece que os seguidores do Momo têm a mesma impressão sobre os seguidores de Cristo: “De fato”, diz ele, “a mensagem da morte de Cristo na cruz é loucura para os que estão se perdendo; mas para os que estão sendo salvos, é poder de Deus” (1 Coríntios 1.18). Mas então, quem está certo da cabeça? Paulo responde: “Pois aquilo que parece ser loucura de Deus é mais sábia do que a sabedoria humana, e aquilo que parece ser a fraqueza de Deus é mais forte que a força humana” (1 Coríntios 1.25).

E aí vejo Jesus parecido com Benjamin Button, que nasce velho e fraco, fica bonito e morre novo. Isaías lembra: “Ele não era bonito nem simpático (...) Era alguém que não queremos ver” (53.2,3). Jesus percorre o caminho inverso da vida, do velho para o novo, morre quando deveria estar nascendo. Tudo para ser a própria ressurreição e o maior espetáculo do mundo. Pois “quando o corpo é sepultado, é feio e fraco; mas quando for ressuscitado, será bonito e forte” (1 Coríntios 15.43).

São ou não são coisas estranhas que faz a gente pensar?

Marcos Schmidt
pastor luterano
Igreja Evangélica Luterana do Brasil
Comunidade São Paulo, Novo Hamburgo, RS
18 de fevereiro de 2010

Obrigado colega pela inteligente publicação.

Abraços,

Pr. Thiago Pacheco