quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Coisas estranhas

No domingo do Carnaval assisti “O Estranho Caso de Benjamin Button” – filme que conta a vida de um sujeito que nasce envelhecido e com o passar do tempo rejuvenesce. A bizarra história deste homem que vive uma vida inversa no tempo, até virar bebê e morrer no colo da mulher amada, faz a gente ver que é melhor assim, nascer novo e morrer velho. Diferente da propaganda que passa a idéia da eterna juventude. Por isto tanta gente de corpo sarado mas lelé da cuca. Não que seja errado proteger-se do envelhecimento. Mas chega a hora que nenhuma mágica, botox ou plástica resolve. E daí a realidade do Salmo 90: “Só vivemos uns setenta anos, e os mais fortes chegam aos oitenta, mas esses anos só trazem canseira e aflições” (v.10).

Por isto a oração neste salmo: “Senhor, faze com que saibamos como são poucos os dias da nossa vida para que tenhamos um coração sábio” (v.12). No entanto, por ser a vida curta, muita gente faz o contrário – deixa de ter um coração sábio. E tenta aproveitar o que pode de Carnaval a Carnaval, sem se dar conta que o obeso Momo deixa na avenida as cinzas de inconseqüências, insanidades, loucuras. Mas ele faz o que lhe compete, pois, segundo a mitologia grega o deus Momo foi expulso do Olimpo para ser na Terra o rei dos loucos e zombar dos humanos. Foi isto outra vez neste trágico feriadão.

E então outra estranheza: as Cinzas após o Carnaval – esse período religioso da Quaresma que contempla um rei coroado no Calvário. Não é uma absurda contrariedade? A festa da folia versus a contemplação da cruz? Não é esquisita a coroa da glória na cabeça do rei da loucura, enquanto a coroa de espinhos ferindo aquele que espontaneamente envelhece para oferecer nova vida? Não é maluquice o deus zombador escolhido como anfitrião do maior espetáculo da Terra, enquanto o Senhor da Terra ser zombado e rejeitado? Troca-se o duradouro pelo fugaz, a eternidade pela finitude.

Mas o apóstolo Paulo reconhece que os seguidores do Momo têm a mesma impressão sobre os seguidores de Cristo: “De fato”, diz ele, “a mensagem da morte de Cristo na cruz é loucura para os que estão se perdendo; mas para os que estão sendo salvos, é poder de Deus” (1 Coríntios 1.18). Mas então, quem está certo da cabeça? Paulo responde: “Pois aquilo que parece ser loucura de Deus é mais sábia do que a sabedoria humana, e aquilo que parece ser a fraqueza de Deus é mais forte que a força humana” (1 Coríntios 1.25).

E aí vejo Jesus parecido com Benjamin Button, que nasce velho e fraco, fica bonito e morre novo. Isaías lembra: “Ele não era bonito nem simpático (...) Era alguém que não queremos ver” (53.2,3). Jesus percorre o caminho inverso da vida, do velho para o novo, morre quando deveria estar nascendo. Tudo para ser a própria ressurreição e o maior espetáculo do mundo. Pois “quando o corpo é sepultado, é feio e fraco; mas quando for ressuscitado, será bonito e forte” (1 Coríntios 15.43).

São ou não são coisas estranhas que faz a gente pensar?

Marcos Schmidt
pastor luterano
Igreja Evangélica Luterana do Brasil
Comunidade São Paulo, Novo Hamburgo, RS
18 de fevereiro de 2010

Obrigado colega pela inteligente publicação.

Abraços,

Pr. Thiago Pacheco

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