quinta-feira, 9 de abril de 2009
A Humilhação e a Glorificação de Jesus Cristo
Lição Especial sobre a Páscoa
Textos Bíblicos:
a - Mateus 28. 1-10
“No findar do sábado, ao entrar o primeiro dia da semana, Maria Ma-dalena e a outra Maria foram ver o sepulcro.
E eis que houve um grande terremoto, porque um anjo do Senhor des-ceu do céu, chegou-se, removeu a pedra e assentou-se sobre ela.
O seu aspecto era como um relâmpago, e a sua veste, alva como a ne-ve.
E os guardas tremeram espavoridos e ficaram como se estivessem mor-tos.
Mas o anjo, dirigindo-se as mulheres, disse: Não temais; porque sei que buscais Jesus, que foi crucificado.
Ele não está aqui; ressuscitou, como tinha dito. Vinde ver onde ele ja-zia.
Ide, pois, depressa e dizei aos seus discípulos que ele ressuscitou dos mortos e vai adiante de vós para a Galileia; ali o vereis. É como vos digo!
E, retirando-se elas apressadamente do sepulcro, tomadas de medo e de grande alegria, correram a anunciá-lo aos discípulos.
E eis que Jesus veio ao encontro delas e disse: Salve! E elas, aproxi-mando-se, abraçaram-lhe os pés e o adoraram.
Então, Jesus lhes disse: Não temais! Ide avisar a meus irmãos que se dirijam à Galileia e lá me verão”.
(Leia também as narrativas dos demais Evangelhos: Mc 16.1-8;
Lc 24.1-12; Jo 20.1-10)
b - Romanos 4.24 a 5.4
“... mas também por nossa causa, posto que a nós igualmente nos será imputado, a saber, a nós que cremos naquele que ressuscitou dentre os mortos a Jesus, nosso Senhor,
o qual foi entregue por causa das nossas transgressões e ressuscitou por causa da nossa justificação.
Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus, por meio de nos-so Senhor Jesus Cristo;
por intermédio de quem obtivemos igualmente acesso, pela fé, a esta graça na qual estamos firmes; e gloriamo-nos na esperança da glória de Deus.
E não somente isto, mas também nos gloriamos nas próprias tribula-ções, sabendo que a tribulação produz perseverança;
a perseverança, experiência; e a experiência, esperança”.
c - 2 Timóteo 2.8
“Lembra-te de Jesus Cristo, ressuscitado de entre os mortos”.
A mais importante semana da história humana
No domingo passado, no chamado Domingo de Ramos, relembramos a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém. Hoje, estamos comemorando a Páscoa, isto é, a ressurreição gloriosa de Jesus Cristo após sua morte na cruz do Calvário.
Convém lembrar os acontecimentos daquela semana, tantos e tão im-portantes que dariam para muitas semanas em aulas de Escola Domini-cal. Como nosso assunto de hoje é Páscoa, vamos apenas mencionar alguns deles. O que se recomenda é uma leitura de todos os textos dos Evangelhos a partir da entrada triunfal de Jesus. Nesses textos, podere-mos relembrar a purificação do templo, o episódio da figueira sem fru-to, a conversa no templo com os principais sacerdotes, as últimas pará-bolas que proferiu, dos dois filhos, dos lavradores maus, das bodas, do bom servo e do mau, das dez virgens e dos talentos, o sermão profético, os preparativos para a Páscoa, a instituição da refeição eucarística, a santa ceia, a traição de Judas, a prisão, julgamento e condenação de Jesus à morte infamante na cruz e seu sepultamento no túmulo que José de Arimateia disponibilizou.
A releitura desses textos vai revelar coisas muito importantes para nossa fé, que não devem ser lidos e estudados apenas nos tempos de Páscoa mas sempre, pois essas passagens nos levam a compreender os misté-rios dos dias finais de Jesus na terra. Convém lembrar que a palavra mistério não significa alguma coisa complicada, complexa e difícil de entender. No sentido neotestamentário do termo, um mistério é alguma coisa, normalmente simples em si mesma, que é totalmente obscura para quem está de fora mas completamente entendível pelo iniciado. Ao não instruído nessas coisas, é sem sentido; para o instruído, é veículo de verdade e graça.
Sexta-feira Santa e Páscoa
O mistério da encarnação desabrocha no mistério da sexta-feira santa e da Páscoa. Precisamos vê-las conjuntamente. Há duas idéias que não podem ser dissociadas. Os protestantes e católicos, estes até de maneira mais incisiva, acabam dando muita ênfase na teologia da cruz: “foi en-tregue por nossas transgressões”. Os ortodoxos, por sua vez, enfatizam mais a teologia da glorificação: “ressuscitou para nossa glorificação”.
Não há teologia da cruz sem o complemento natural – a teologia da glorificação. Ou seja, não há Páscoa sem sexta-feira santa e não há sex-ta-feira santa sem Páscoa. É fácil encher o cristianismo de tribulação e angústia. Mas se a cruz é a cruz de Jesus e não uma especulação a res-peito da cruz, que qualquer um pode fazer, não se pode esquecer, de modo nenhum, que o crucificado levantou-se dos mortos no terceiro dia.
Por isto, temos que celebrar a sexta-feira santa de maneira diferente do que temos feito. Em vez de cantar hinos tristes e lamuriantes sobre a morte de Cristo, talvez já devemos entoar nela os cânticos festivos de Páscoa. Karl Barth, um dos maiores teólogos protestantes do século 20, muito apreciado também pelos católicos, nos fala que o que aconteceu na sexta-feira não foi tão trágico e abominável pois Jesus venceu a mor-te e ressurgiu. Ele chega a dizer que, já na sexta-feira, se devem ouvir os tambores festivos que anunciam a ressurreição.
O ponto crucial da cristologia tem sido discutido debaixo de duas con-ceituações: a humilhação e a exaltação de Cristo. A humilhação inclui o “padeceu sob o poder de Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepul-tado”, como nos diz o Credo Apostólico. A cruz, para qualquer um, seria humilhação e abandono. Mas o que dá significado à humilhação é o fato de que este homem, Jesus, é o filho de Deus, que não é outro se-não Deus mesmo, que se humilha e se entrega a si mesmo.
Quando tudo é completado pela exaltação de Cristo no mistério da Pás-coa, essa glorificação é certamente a glorificação do próprio Pai. É a sua honra que triunfa ali. Mas o verdadeiro mistério da Páscoa é que o homem é exaltado, colocado à mão direita de Deus para triunfar sobre o pecado e a morte.
O que houve foi uma substituição. A reconciliação do homem com Deus se realiza com Deus colocando-se a si mesmo no lugar do homem e o homem sendo colocado no lugar de Deus – um ato da graça divina. Esse milagre inconcebível é a nossa reconciliação com Deus.
Na crucificação, Deus toma sobre si aquilo que é merecido pelo ho-mem. Se Deus não agisse, a criatura humana seria destruída pelo peca-do. Deus não deseja isto para o homem. Ele quer que o homem se salve. Só a entrega de Deus a si próprio é suficiente para salvar o homem. A reconciliação significa Deus tomando o lugar do homem.
Na morte de Jesus, Deus cumpriu a sua lei. Deus agiu como juiz em relação ao homem. No julgamento, o homem é condenado mas Deus se coloca em seu lugar. É o que fala o apóstolo Paulo em sua carta aos romanos: “ele foi entregue por nossas transgressões”. É por isto que se fala em sofrimento vicário de Jesus, que significa, feito em nosso lugar.
Nesse processo todo, o julgamento de Deus é executado e a lei de Deus é aplicada. Mas o que o homem deveria sofrer, é Cristo quem sofre. Eis porque Jesus Cristo é Senhor, pois coloca-se em nosso lugar diante de Deus, tomando sobre si mesmo o que pertence a nós. Na cruz, Deus se torna fiador nosso, por aquilo que somos de amaldiçoados, culpados e perdidos. Dessa maneira, Jesus dá fim, para sempre, à maldição, a qual-quer tipo de maldição. Não é da vontade de Deus que o homem pereça; não é da vontade de Deus que o homem pague o que deve pagar. Em outras palavras mais claras, Deus extirpa o pecado. É justamente isto que Deus faz: determina o castigo mas toma o lugar do culpado. A jus-tiça de Deus não se choca com sua misericórdia e seu amor. Isto é gra-ça. Este é o mistério da sexta-feira santa.
Por isto, temos que ir além da sexta-feira santa. Não somos mais consi-derados por Deus como pecadores que precisam passar pelo julgamento de suas culpas. Nada mais temos a pagar. Somos libertados pela graça, pelo fato de Deus se ter colocado no banco dos réus por nós. Agora, como o apóstolo Paulo falando aos Filipenses (1.22): “(Jesus) vos re-conciliou no corpo da sua carne, mediante a sua morte, para apresentar-vos perante Ele (o Pai) como santos, inculpáveis e irrepreensíveis.
O Sepulcro Vazio
Depois que sepultaram Jesus e lacraram a pedra do sepulcro, os discípu-los voltaram às suas atividades. O sonho terminara. Todas as palavras e promessas de Jesus foram esquecidas. As próprias mulheres, aquelas que acompanharam de perto a morte de Jesus, também se esqueceram delas. Como, no entanto, amavam Jesus, na madrugada daquele do-mingo foram ao sepulcro levando aromas para perfumar o corpo de Jesus. Ou seja, não esperavam ressurreição nenhuma.
Indo ao sepulcro, viram a pedra removida e um anjo. Atônitas com o desaparecimento do corpo de Jesus, elas receberam as primeiras notí-cias da ressurreição de Jesus através de um anjo e o pedido de Jesus para informar os discípulos que estava indo para a Galileia. Ao receber a notícia, os discípulos também não acreditaram. As mulheres acompa-nharam todo o sofrimento de Jesus, sua prisão, seu julgamento e conde-nação. E foram testemunhas importantes da crucificação de Jesus. Na-quele domingo de madrugada foram elas as primeiras a saber da ressur-reição de Jesus e a se encontrarem com ele. Pela atenção e cuidado que elas tiveram com Jesus durante todo o tempo, presentes junto à cruz e quando puseram o corpo de Jesus no sepulcro, bem que elas mereceram receber essa recompensa de amor, serem as primeiras pessoas do mun-do a contemplar a realidade do sepulcro vazio e do Cristo ressurreto.
Quando Jesus se encontra com elas, ele lhes diz: “Salve!”. O significa-do real dessa palavra, que é uma forma comum de saudação, é “ale-grem-se”.
Mensagem da Páscoa
Ao terceiro dia ressurgiu dos mortos. Esta é a mensagem da Páscoa. Ela assegura que não foi em vão que Deus humilhou-se a Si mesmo em seu filho. Fazendo isto, ele pode retomar a sua própria honra e confirmar a sua própria glória. Por sua misericórdia, triunfou sobe a humilhação e o resultado é a exaltação de Jesus Cristo. Na ressurreição de Cristo, o homem é exaltado e apontado como aquele que se tornou livre na morte de Cristo.
Esta é a mensagem da Páscoa, o fim do processo de reconciliação do homem com Deus, ou seja, a redenção do homem. O homem é agora uma criatura redimida. Ele está livre de tudo que tinha domínio sobre ele, como a maldição e a morte. Ele passa a fazer parte do Reino de Deus. O homem não é mais seriamente olhado por Deus como um pe-cador. Ele é agora um homem justificado. Isto é mais do que ser sim-plesmente perdoado. Como diz o antigo e sempre novo hino: “Tu não somente perdoas, purificas também ó Jesus”. Isto é santificação.
O homem está em Cristo Jesus que morreu por ele e, em virtude de sua ressurreição, pode viver para glória de Deus. Nesse terceiro dia, começa uma nova vida para Jesus, uma nova vida para o homem, uma nova era para a humanidade. O velho mundo foi completamente banido e exter-minado na morte de Jesus. Na Páscoa, fica claro que a vitória de Deus em favor do homem já foi ganha. A Páscoa é a grande promessa de nos-sa esperança. Mas simultaneamente esse futuro já está presente na mensagem da Páscoa. É a proclamação de uma vitória já conquistada. A guerra acabou, embora alguns, que não souberam da notícia, ainda lu-tem por aqui e ali. A partida está ganha embora o jogador oposto ainda faça alguns lances. O relógio da parede chegou ao fim da corda embora o pêndulo ainda esteja balançando.
Estamos vivendo no tempo interino entre o velho que já passou e aquele em que tudo se fará novo. A mensagem da Páscoa nos diz que os nossos inimigos, o pecado e a morte, foram derrotados. Eles ainda se compor-tam como se a partida ainda não tivesse sido decidida. Precisamos reco-nhecer a presença deles mas precisamos deixar de ter medo deles.
A ressurreição de Cristo revela essa proclamação de vitória. É por isto que o apóstolo Paulo exorta a Timóteo. “Lembra-te de Jesus Cristo, ressuscitado dentre os mortos”. Na ressurreição de Cristo já teve início a nossa própria ressurreição. Ela já foi antecipada, anunciada, garantida. Tudo o que os cristãos que nos trouxeram até aqui viveram, creram, amaram e sofreram jorrou dessa única fonte, a ressurreição de Cristo. Toda a vida cristã é faísca desse fogo, é reflexo do túmulo vazio.
A vida só é vida mesmo na medida em que cremos na ressurreição. A vida sem ressurreição é um nada. “Se Jesus não ressuscitou, é vã a nos-sa fé e a nossa pregação”, conforme nos assevera o apóstolo Paulo (1 Coríntios 15.17). A ressurreição de Cristo é a glória para nós. É a res-posta às nossas perguntas. Quem foi condenado, crucificado morto e sepultado na sexta-feira santa? Não só Jesus mas, com ele e em sua pes-soa, todos nós. Nós fomos aniquilados naquela cruz. É por isto que na Páscoa ressuscitamos todos nós. Depois de tudo arrasado, começou tudo de novo para nós. Tudo. Mas de maneira inteiramente nova. Com esse pobre material que somos, Deus faz tudo novo.
Mas o que Deus exige desse material ressuscitado? Deus quer que es-queçamos o medo, as preocupações e fome pelo poder e pelo renome, porque tudo isto já foi crucificado, morto e sepultado. E Deus quer que aceitemos a alegria e a paz que nos foram presenteadas por ocasião da Páscoa. Ele quer que trilhemos o Seu caminho pois todos os outros são becos sem saída.
A pequena frase da carta a Timóteo diz: “Lembra-te”. Mantém na lem-brança, no caderninho de notas, nos umbrais das portas, pense nisto, não se esqueça. Podemos nos esquecer de muita coisa nesta vida mas não podemos nos esquecer do Cristo ressuscitado. Todos os erros, equí-vocos, maldades, parcialidades, medos, agitações com que nos tortura-mos e com os quais amarguramos a vida dos outros têm sido porque não nos lembramos que Ele ressuscitou.
É claro que um dia vamos morrer. Porém, mais do que isto, nós já po-demos viver. Nós e todo o mundo. Por isso a humanidade tem o direito de alimentar a sua esperança. Deus nos deu esse direito. Na Páscoa.
Fonte: Igreja Metodista em Vila Isabel
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Olá Thiago, pertinente seu texto. Também muito relevante quando consideramos o período que estamos experienciando em/com nossas Igrejas - comunidade de fé.
ResponderExcluirConstantemente fico me perguntando sobre o significado mais aproximado daquilo que realmente é a verdade sobre a ressurreição de Cristo - sobre o que e o quanto significa isso. É uma pergunta que confesso, me acompanha em meus processos de uma exegese viva, a partir da vida.
Entendo a ressurreição como sentido último do ato de preencher as ausências humanas. A ressurreição de Cristo significa nossos vazios preenchidos. Por exemplo no texto sobre a ressurreição de Lázaro, Evangelho de João, capítulo 11, a maior ênfase do texto bíblico não é no morto levantado, mas Jesus atinge o ponto máximo de sua ação no texto quando as ausências das irmãs Marta e Maria vão desaparecendo na medida em que Jesus se apresenta dentro da casa que até então estava cheia, mas ao mesmo tempo vazia: sem Jesus o melhor amigo, e sem Lázaro o parente próximo.
A ressurreição de Jesus é real, é palpável, desde que os espaços estejam sendo preenchidos. A Páscoa é real, é litúrgicamente palpável, mas precisa pensar nas ausências muito mais que enfatizar a ressurreição. Somente focando nas ausências, no vazio do túmulo, experimentaremos o que Marta e Maria experimentaram. Parece antagônico, e não deixa de ser, mas para ver a ressurreição é necessário identificar vazios, a ausência. Isso nos impede de caírmos na tentação da teologia quase militar do Deus que assentado no Trono de glória - da vida abundante, sem ausências - perfeita - sem problemas, teologia dos "super crentes". Patogênica por sinal.
Essa é minha percepção, o que você acha?
Abração.