domingo, 7 de março de 2010

Nem com uma flor!

Vivemos tempos terríveis e vergonhosos. Com grande freqüência assistimos a reportagens e, porque não dizer, testemunhamos manifestações de violência contra a mulher. Sem dúvida alguma conhecemos mulheres que já sofreram algum tipo de violência velada ou explícita, física, emocional ou psicológica. Crescem assustadoramente os casos registrados, porém, não podemos nos esquecer daqueles que não são mencionados pela vergonha, o medo e a coerção. Diante disso, o que temos feito? Como você e sua Igreja têm se posicionado sobre essa questão?

Trago essa reflexão com base no cotidiano da vida, de situações que conhecemos; mas também, apresento essa reflexão, esse estudo, com base na Palavra de Deus e na iminente responsabilidade que ela nos apresenta de propagarmos os princípios do Reino de Deus, no qual todos e todas são merecedores de respeito, dignidade e vida plena. Por fim, apresento essas palavras no intuito de relembrar que o Dia Internacional da Mulher (08/03) é mais que uma data comemorativa; esse dia representa a homenagem às aproximadamente 130 mulheres que morreram carbonizadas pela intolerância androcêntrica e pela ganância capitalista desenfreada; bem como, às inúmeras anônimas que diariamente confrontam as adversidades da vida para manter suas famílias, lares e igrejas vivas.
Assim sendo, relembro o que nos diz a carta aos Efésios em seu capítulo 5 versículos de 22 a 33:

As mulheres sejam submissas ao seu próprio marido, como ao Senhor; porque o marido é o cabeça da mulher, como também Cristo é o cabeça da igreja, sendo este mesmo o salvador do corpo. Como, porém, a igreja está sujeita a Cristo, assim também as mulheres sejam em tudo submissas ao seu marido. Maridos, amai vossa mulher, como também Cristo amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela, para que a santificasse, tendo-a purificado por meio da lavagem de água pela palavra, para a apresentar a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, porém santa e sem defeito. Assim também os maridos devem amar a sua mulher como ao próprio corpo. Quem ama a esposa a si mesmo se ama. Porque ninguém jamais odiou a própria carne; antes, a alimenta e dela cuida, como também Cristo o faz com a igreja; porque somos membros do seu corpo. Eis por que deixará o homem a seu pai e a sua mãe e se unirá à sua mulher, e se tornarão os dois uma só carne. Grande é este mistério, mas eu me refiro a Cristo e à igreja. Não obstante, vós, cada um de per si também ame a própria esposa como a si mesmo, e a esposa respeite ao marido.

Penso que, antes de tudo, seja necessário ressaltar que este texto foi, infelizmente, interpretado, e ainda o é, de forma errada. Ele não justifica a escravidão, a violência, a anulação de direitos, ou a subserviência da mulher ao homem, da esposa ao marido, da noiva ao noivo, da namorada ao namorado. Penso, também, que seja importante ressaltar que as manifestações impulsivas acerca de tendências machistas sobre o texto, colaboram para que o mesmo seja deixado de lado, o que nos impede de entender os mistérios contidos nas palavras bíblicas. Portanto, eu convido a você que está lendo esse estudo a se despir de conceitos e preconceitos para experimentar a revelação da graça de Deus em você e através de você, sob a perspectiva do Reino de Deus.

O autor bíblico nos oferece uma magnífica construção literária acerca do relacionamento entre a mulher e o homem, entre o marido e a esposa; e ele o faz usando uma ferramenta que nos auxilia a compreender esse mistério, que é a comparação. Ele usa a relação entre Cristo e a Igreja para exemplificar como deve ser a relação entre o casal.

As mulheres, portanto, devem “ser submissas” (υποτασσω) , ou seja, devem render-se ao conselho e organizar-se sob “o controle”, a proteção de seu próprio marido, numa atitude voluntária de cooperação, assumindo a responsabilidade que lhe é devida, rendendo-se à admoestação benévola do esposo, mutuamente concordando sobre a organização e os apontamentos a serem seguidos. Ela deve se sujeitar ao próprio marido da mesma maneira que faz ao Senhor, Cristo, que é o cabeça da mulher e da Igreja; pois o marido é como Cristo, ou seja, ele reflete as qualidades de Cristo, age da mesma forma que o Senhor. Assim, como a Igreja está sujeita a Cristo, esteja também a mulher sujeita ao seu próprio marido, pois este é o “salvador”, o preservador (σωτηρ) do corpo.

Essa primeira parte do texto, e do nosso estudo, já nos aponta alguns caminhos que devemos seguir para testemunharmos os princípios do Reino de Deus. Devemos combater toda e qualquer forma de violência, pois assim como Cristo protege e preserva a Igreja, os maridos devem proteger e preservar o corpo de suas mulheres. Creio que nesse momento seja necessário apresentar um conceito importante: somos seres holísticos . Isso significa que a violência emocional e psicológica são tão nocivas e repulsivas quanto a física. Suas marcas são tão dolorosas quanto as que podemos perceber, ver e tocar, no corpo.

O texto bíblico continua e direciona suas palavras ao marido especificamente. Este deve amar sua mulher tendo por base a mesma maneira que Cristo amou sua Igreja e o amor que ele tem por si mesmo. São dois os parâmetros, o primeiro se revela na relação com Cristo, o Senhor; o segundo na relação consigo mesmo, no mistério do amor ao próximo (Mt 22.37-40). Esse amor (αγαπαω) está relacionado ao gostar muito de alguém, acolhendo e recebendo com alegria e satisfação.

Dessa forma, o marido se entregará (παραδιδωμι) , ou seja, se apresentará em lugar dela, fornecendo o que lhe é necessário, suprindo suas necessidades, doando-se por sua esposa para: Santificá-la (αγιαζω) – consagrá-la e dedicá-la a Deus, como algo sublime; Purificá-la (καθαριζω) pela lavagem (καθαρος) de água pela Palavra (ρημα) – anunciar em viva voz que ela é digna e respeitosa, livre de toda culpa e que suas feridas estão sendo tratadas; Apresentar a si mesmo igreja (καλεω – que recebeu o nome de) gloriosa – alegrar-se em razão de a esposa ser idônea e sem deformidade moral (σπιλος – mácula, ruga e coisas semelhantes).

Essa segunda parte do texto, e deste estudo, nos apresenta a relação intrínseca entre o marido, Cristo e a esposa, sob a perspectiva do mandamento deixado pelo Senhor da Igreja e o cabeça da mulher, o qual é, também, o modelo do marido. O amor acolhedor tem como propósito a consagração, a defesa pública e a auto-satisfação pela idoneidade da esposa. Assim sendo, ambos, mutuamente, se amam, suprem as necessidades e cuidam do relacionamento entre si e com Cristo.

Por fim, o texto apresenta a finalidade pela qual tais palavras foram escritas: “Eis por que deixará o homem a seu pai e a sua mãe e se unirá à sua mulher, e se tornarão os dois uma só carne.” O casamento é a maravilhosa ação de compartilhar a vida a dois, sem reservas e sem medo. O ensino bíblico não está motivando ninguém a rejeitar sua herança familiar, nem a renegar pai e mãe, mas está mostrando um caminho excelente no qual a vida é re-criada pela união sadia do marido e da esposa. Serão os dois uma só carne, mostra que suas peculiaridades, as características individuais de cada ser mantém-se, mas são harmoniosamente amoldadas ao novo estado de vida, no qual não são dois, mas um. Nesse processo, a esposa descansa segura sob a orientação do marido e lhe dá a importância e atenção devidas, pois este reflete Cristo.

Finalizando este estudo, desejo reafirmar firmemente que nós, Igreja Metodista, rejeitamos veementemente toda e qualquer forma de violência, velada ou explícita, e que temos um compromisso com o Reino de Deus de proclamar e defender as Boas Novas de salvação para todas as pessoas.

Que o Senhor da vida nos abençoe e conceda a revelação plena da Sua graça, que restaura em nós e através de nós a vida completa que Jesus Cristo deseja nos dar.

Em Cristo,
Pr. Thiago Pacheco
Igreja Metodista em Jardim América
Pastor Titular

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