terça-feira, 7 de julho de 2009

O Desafio do Mundo Moderno

E tu, Daniel, fecha estas palavras e sela este livro, até ao fim do tempo; muitos correrão de uma parte para outra, e a ciência se multiplicará

O texto base desse resumo crítico se baseia no quarto capítulo de Keelling M., em sua obra Fundamentos da Ética Cristã: O Desafio do Mundo Moderno .

O texto apresenta um panorama histórico sobre o avanço da modernidade em diversos âmbitos, assim como, as dificuldades encontradas pelo ser humano para lidar com esse avanço, em especial, sobre como colocar em prática as ideologias modernas em prol do bem estar comum. A ética cristã é apresentada como ponto de análise e reflexão sobre as ponderações do autor, bem como sobre as abordagens filosóficas de Immanuel Kant e David Hume. São apresentadas, também, algumas posições mais “administrativas” de Adam Smith e Max Weber, inclusive sob aspectos econômicos.

O texto é muito rico e denso, em razão disso pode, numa primeira análise, mostrar-se de difícil compreensão, porém, como o próprio autor destaca: “O desafio que o mundo moderno lança à fé e à vida cristã é contundente e incontornável”.

O processo de observação do mundo natural é destacado como fonte abrangente da ve-rificação da manifestação de Deus no processo histórico, mas, de forma contundente, não o maximiza a ponto de ser considerado um deus.

O autor apresenta a perspectiva desse processo na visão do Antigo Testamento, na qual o ser humano é apresentado como mera criatura e não o apogeu da criação, inclusive, sofrendo interpelações de Deus acerca de seus questionamentos. Deus foi considerado durante muito tempo o sustentáculo da criação e o responsável por seu funcionamento, mas, com o advento da compreensão de nossa capacidade cognitiva, as respostas à ordem natural das coisas deveriam vir: “do próprio pensamento humano”.

Com isso, sob a influência crítica de Descartes, o ser humano foi estimulado a sempre partir de uma posição mais cética e pautar suas compreensões pelo método empírico. Somado a isso, o século 18 agregou uma profunda repulsa à reflexão aprofundada sobre Deus, impulsionando o ser humano a trabalhar sob o foco de múltiplas áreas de interesse que advém de sensações ou de lembranças delas. Esse processo subjetivou as impressões acerca de Deus e suas manifestações, tornando os estudiosos religiosos mais céticos, como nota-se nas ponderações de Hume: “a religião e amoral religiosa não têm outro fundamento que as sen-sações próprias da experiência humana”.

Com Immanuel Kant, a autonomia da razão exacerbou ainda mais o foco na razão humana, insistindo que essa é capaz de lidar com os conteúdos da experiência sensorial. Ele destaca duas conseqüências:

Primeira: toda ação que emana da vontade de fazer o que é bom deve ter tal coerência moral que possa ser erguida em princípio universal, válido para todos os demais seres racionais. (...) A segunda e que todos os seres humanos são ‘pessoas’ no sentido de agentes morais racionais.

O processo de alteração na modalidade do pensamento individual e coletivo das soci-edades continuou se orientando sobre as perspectivas filosóficas da modernidade. Esse pro-cesso progrediu com o advento da revolução industrial e a reforma protestante que destacaram a magnitude do progresso e da vivência “religiosa-contemplativa” no exercício do dia-a-dia, do cotidiano. Sob esse aspecto, destacou-se no âmbito religioso, João Calvino, influenciando os cristãos a pensarem e se esforçarem pela salvação e pelo sucesso nos negócios.

A riqueza passou a seu considerada resultado do esforço humano, o que originou as-sistencialismo mínimo aos pobres como expressão filosófica, ideológica e teológica do que é certo, ou seja, buscar o sucesso e riqueza pessoais, mas, de alguma forma, “ajudar” os menos favorecidos.

Surge então, o conceito de que “os processos humanos (...) não eram mais governados por Deus” . A racionalidade de Kant, as observações evolutivas de Darwin e as descobertas genéticas de Crick e Watson fragmentaram ainda mais o conceito judaico-cristão do Antigo Testamento da soberania de Deus e de sua característica sustentadora da criação como um todo.

Mas, em contrapartida, o autor apresenta sua percepção do que deve ser a posição ética cristã que apresenta que o sentido da existência e vida humanas são parte integrante do propósito maior e, unicamente, relacionado com a soberania de Deus.
O texto é denso e requer atenção em sua leitura, porém, ele desenvolve de forma muito coerente as diversas posições e evoluções sofridas pela sociedade e a humanidade, assim como pela criação, no decorrer dos últimos 4 séculos.

REFERÊNCIAS

BÍBLIA. Português. Bíblia sagrada. Tradução de João Ferreira de Almeida. 2 ed. São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 1993. Edição revista e atualizada no Brasil

KEELLING, M. Fundamentos da Ética Cristã. São Paulo: Aste, 2002, p. 143-180

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