"Ninguém costura remendo de pano novo em veste velha; porque o mesmo remendo novo rompe o velho, e a rotura fica maior. E ninguém põe vinho novo em odres velhos; do contrário, o vinho novo rompe os odres, e entorna-se o vinho, e os odres estragam-se; o vinho novo deve ser posto em odres novos." Marcos 2.21-22
Chegamos a mais um final de ano e outro que se inicia. Esses momentos sempre têm duas características: saudade e esperança. Lembramo-nos do que passou, fazemos uma retrospectiva, mas também projetamos o futuro e cremos que dias melhores, pela graça de Deus, virão.
O texto do evangelista Marcos nos traz essa perspectiva de viver uma novidade de vida, experimentar algo novo. Como o primeiro evangelho a ser escrito, Marcos é muito prático: “Pau, pau, pedra, pedra; e vamos que vamos”. Lá entre os anos 65 – 70 d.C. o extermínio dos cristãos em razão da perseguição romana parecia certo, por isso, Marcos é sempre muito direto e prático ao apresentar os seus relatos. Esse em especial, está num bloco maior em que ele trata da questão do jejum e das regras que eles tinham para segui-las. É nesse contexto que Jesus apresenta essas estranhas figuras, imagens sobre a vestimenta e o alimento.
Mas, como isso se relaciona conosco? Eu quero trabalhar 2 ensinamentos práticos que o texto nos apresenta para que possamos compreender a proposta de Jesus para nós no início desse novo ano: Ano novo, vida nova!
O primeiro ensinamento prático é: Ano novo, vida nova é igual a roupa nova
Nem Jesus, nem Marcos estão falando aqui sobre modelos da alta costura, desfiles de moda etc. A Bíblia está nos apresentando uma comparação muito inteligente acerca do que seja viver uma nova vida, uma nova realidade. Jesus está no meio de uma discussão acirrada sobre o porquê, a razão dos seus discípulos não jejuarem enquanto os discípulos de João Batista e os fariseus o faziam. A força da lei, o peso na norma, a experiência de anos e anos de tradição estavam pulsando naquela pergunta. Era como se eles dissessem a Jesus: “Nós sabemos que tu és profeta, já te vimos operar sinais e maravilhas, já ouvimos tua pregação. A gente simpatiza com você, queremos te seguir, mas e tudo que nós estamos acostumados a fazer? Como é que fica?”. Aquela situação incomodava as pessoas e por isso Jesus apresenta o primeiro ensinamento prático desses versículos – remendo não lavado em pano velho é igual a um estrago maior ainda. O texto grego, língua em que o Novo Testamento foi originalmente escrito, não fala sobre pano novo em veste velha, mas sobre remendo de pano não lavado sobre veste velha.
Quando compramos uma roupa nova e a lavamos, o que geralmente acontece com ela? Ela encolhe! Se colocamos um pedaço de remendo não lavado numa roupa já lavada, usada, o que acontecerá quando colocarmos pela primeira vez essa roupa na máquina de lavar ou no tanque? O remendo irá encolher, puxando os fios da roupa velha e o estrago ficará pior do que antes. Chama-me a atenção de que Jesus não está, em momento nenhum, criticando a roupa velha e dizendo que a nova é melhor, Ele só está alertando que precisamos ser coerentes com nossas escolhas e com o momento que vivemos. Se temos roupa velha, que seja remendo velho, se temos roupa nova, que seja remendo novo. Para nós as coisas devem ser assim também. Ao fazermos nossas retrospectivas desse ano, projetando o futuro, veremos que muita coisa boa aconteceu e que devemos procurar repeti-las, mas certamente identificamos, também, coisas que precisam ser mudadas, ajustes que precisam ser feitos para que a caminhada do ano que se inicia, do biênio que se inicia seja ainda mais agradável e produtiva. O que passou deve ser descartado, então? De forma nenhuma! Mas precisamos entender que ano novo, vida nova, requerem de nós hábitos novos, maneiras novas de agir, não porque o que passou fosse ruim ou pior, mas porque numa nova caminhada nossos corações e mentes precisam estar abertos às novidades de vida que Deus propõe pra nós.
Como é que fazemos isso? Dispondo-nos a perceber, a lidar, a interagir com o diferente. Trocar experiências e crescer junto, juntando o melhor de cada um, numa novo maneira de pensar e agir, dando as mãos e caminhando juntos em direção ao melhor de Deus para nós. Expressando em tudo e sobretudo o amor de Deus pelas nossas palavras e atitudes, sabendo que o Senhor da vida é Aquele que no ano novo nos dá também um nova vida.
O segundo ensinamento prático é: Ano novo, vida nova é igual a recipiente novo
Usar a figura dos odres foi outra grande expressão da criatividade de Jesus. Um recipientezinho comum, que possivelmente todas as pessoas tinham. Um saquinho, feito de couro, normalmente de cabra, porque lá em Israel não tinham bois e vacas sobrando como no Brasil. Um local para se guardar líquido, em geral água ou vinho. Algo do dia-a-dia do povo que talvez passasse tão despercebido e que por isso chamou tanto a atenção de todos que o evangelista Marcos lembrou de registrar quase 35 anos depois da morte de Jesus. É com base nesse recipiente que Jesus apresenta o segundo ensinamento prático desses versículos – não se pode encher algo que não comporta, que não agüenta o conteúdo. Jesus tratava sobre vencer os limites de uma vida religiosa rotineira e sem sentido, de práticas boas, históricas, mas que tinham perdido o sentido de serem. Porém, Ele também tratava de algo ainda maior, a revelação do Reino de Deus, proposta e implementada em Cristo não podia ser contida, restringida, guardada num grupo, ou numa prática, pois o Reino de Deus transcende, vai muito além do que imaginamos. Deus se revela como quer, onde quer, para quem quer, sempre em tempo oportuno. “O vento sopra onde quer, ouves a sua voz, mas não sabes donde vem, nem para onde vai; assim é todo o que nascido do Espírito” (cf. João 3.8)
Mas, e os odres e as nossas vidas hoje? Esse recipiente feito de couro é tratado, curtido de forma que com a desidratação do couro, ele fica isolado contra fungos e bactérias que são responsáveis pela degradação da matéria. Qual o problema então com o vinho novo nos odres velhos? O vinho novo ainda não passou totalmente pelo processo de fermentação, que é quando as bactérias e fungos transformam o açúcar em álcool e produzem assim gás carbônico que expande, pressiona o recipiente a aumentar de tamanho. O que Jesus está dizendo a nós é que se a novidade do Reino de Deus, da vida nova que Ele quer nos proporcionar, das novidades que Ele quer nos apresentar a partir deste ano que se inicia, dessa nova caminhada que termos juntos, for colocada em recipientes, formas, maneiras velhas, quando o processo de transformação de Deus em nós começar, nós seremos pressionados a nos expandir, a aumentar, e se não estivermos preparados para isso, nós romperemos. Deus deseja que sejamos novos odres, recipientes novos, transformados pela ação vivificadora do Espírito Santo, de forma que no momento da revelação renovada do Reino de Deus, nós estejamos prontos para experimentar o melhor de Deus em nós, o tempo da bonança, o tempo em que dará tudo certo, o Senhor restaurará a nossa alegria e nós vamos crescer, expandir, porque Aquele que está dentro de nós e nos impulsiona, é o mesmo que começou essa boa obra e há de terminá-la, para a Sua glória. Bendito seja o nome do Senhor!
Permita que Deus renove a sua vida e sua mente. Permita que Deus te apresente a nova vida que Ele quer te dar, nesse ano novo. Permita que Deus te reapresente a proposta do Seu Reino, que é justiça, paz e alegria para a humanidade, para toda a criação e, especialmente, para você!
Um abraço,
Pr. Thiago Pacheco
sábado, 2 de janeiro de 2010
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