Texto: Lc 4.16-30
O evangelho de hoje conta que Jesus foi para Nazaré, lugar onde ele foi criado desde a sua infância até os 30 anos. Ali, ao longo de todo esse tempo, acompanhou sua mãe nos afazeres de casa e, seu pai, na carpintaria. Ele era conhecido de todos e esteve em contato com todos ao longo de todos aqueles anos. Depois do milagre das bodas em Caná, ele desceu com sua família para Cafarnaum, onde passou não muitos dias. Agora, ele retornou a Nazaré com a fama dos seus feitos já correndo entre eles.
Assim que chegou em Nazaré, foi à sinagoga conforme seu costume. As sinagogas tinham leitores oficiais: Normalmente era um homem competente, membro da sinagoga, que fazia as leituras. Eles liam primeiro uma porção do Pentateuco e, depois, uma dos Profetas. O Pentateuco era lido, sem comentários; mas, a leitura dos Profetas poderia ser seguida de comentários, se o leitor assim o quisesse. O leitor ficava em pé, enquanto lia e, assentado, quando fazia seus comentários.
Os livros estavam em pergaminhos, e eram conservados em rolos. Jesus leu o rolo do profeta Isaías. Ele não pediu esse rolo; este foi-lhe dado. É uma divina coincidência ler o profeta Isaías, que é considerado o evangelista entre os profetas. Ele procurou a porção que queria ler. A leitura era feita pausadamente em hebraico e, depois, era feita a tradução para o aramaico.
Jesus começou a ler: O Espírito do Senhor está sobre mim. Isso foi visto, de modo excepcional, no seu batismo, quando o Espírito Santo desceu sobre ele em forma de pomba. Jesus foi Ungido para o mais elevado trabalho: Pregar as boas novas aos pobres. Os pobres aos quais o termo aqui se refere são aqueles que têm a atitude de profunda humildade e vazio diante de Deus, que sabem que nada podem oferecer a Deus e que só podem parar diante da graça de Deus e serem enchidos por ela. É a atitude da verdadeira contrição da qual falou João Batista e na qual Jesus tanto insistiu em todo o seu ministério.
Depois, na seqüência do texto, os pobres são comparados a cativos. A imagem não é a de prisioneiros numa jaula; mas de prisioneiros de guerra que são levados ao exílio pelos conquistadores. Assim, o texto descreve a ação do diabo, que toma os homens como cativos, de maneira que não podem escapar por meios próprios. Jesus tem a missão de proclamar libertação a esses cativos. A palavra libertação usada aqui é empregada em todo o novo testamento para designar perdão dos pecados. O anúncio da mensagem de Jesus não é o de uma mensagem vazia, de uma promessa falsa, fantasiosa, não é uma palavra de ordem e de lei que os cativos têm que cumprir; não requer esforço deles, pois eles não podem fazer nada. É uma sentença, uma notícia, que transfere esses cativos de Satanás para o reino de Deus, por causa da obra redentora de Cristo.
“A restauração da vista aos cegos” é uma outra figura que traduz o estado de pobreza do ser humano diante de Deus. Aquelas pessoas para as quais Jesus estava falando conheciam a palavra de Deus, mas que foram obscurecidas pelo pecado e conduzidas às trevas do paganismo.
A figura dos pobres ainda é qualificada como quem é comprimido e estilhaçado pelo pecado. O pecado é o fascínio mais ilusório que alguém pode ter, pois não faz o ser humano feliz; não o promove, nem liberta; mas, aprisiona, aperta e estilhaça a vida da pessoa. Por isso, o trabalho do Salvador é garantir perdão, fortalecer a fé e dar liberdade. Ele restaura a alegria e dá a paz. Isso é o que significa pôr em liberdade os oprimidos.
Jesus veio para Apregoar o ano aceitável do Senhor. Essa era a tarefa áurea do Messias. O ano aceitável do Senhor é uma referência ao fato que, no Antigo Testamento, a cada 50 anos, as dívidas eram perdoadas, os escravos eram libertados, as propriedades vendidas sob penhor eram devolvidas. Era chamado de ano da graça de Iahweh. Isaías chama de ano aceitável. Isso é o resultado do que Jesus veio trazer: Ele veio pregar que o ano aceitável do Senhor chegou, e Ele estava ali para levá-lo a efeito. É por isso que ele disse: Hoje se cumpriu as Escrituras que acabais de ouvir. O que estava acontecendo é que a própria Palavra, Cristo, estava lendo a Palavra para eles.
Jesus passou a ensinar-lhes. O que ele estava falando, certamente, era conhecido deles; mas, a incredulidade tinha fechado seus corações. O que fez com que aqueles homens rejeitassem a Jesus foi o fato que as palavras de graça e sabedoria incomparáveis que ouviram vieram dos lábios de um nazareno que eles conheciam muito bem, tanto que eles mencionaram a família de Jesus e a ocupação de José. Apesar de todas as suas palavras atrativas, eles não poderiam crer que ele era o Messias.
Jesus, então, colocou o dedo na ferida da sua insatisfação. Ele demonstrou a sua onisciência, conhecendo os pensamentos de rejeição e incredulidade deles. Em outras palavras, ele disse: Está mais uma vez provado por vocês, nazarenos, que um profeta não é aceito na sua própria terra, como não estou sendo aceito por vocês aqui, onde eu vivi. Vocês deveriam ser os primeiros a crêem em mim, mas são os primeiros a me rejeitar por completo.
Ele continuou falando. Lembrou a história de dois grandes profetas do Antigo Testamento: Elias e Eliseu, por meio dos quais Deus fez dois grandes milagres que beneficiaram pessoas estrangeiras. E isso quer dizer que as dádivas da graça de Deus não são recebidas por causa da nacionalidade ou qualquer outra coisa externa. Nada, nem ninguém, vão coagir Deus a agir. Ele distribui as suas dádivas não de acordo com o mérito humano, mas de graça e por bondade.
Jesus tinha vindo para Nazaré com propósitos claros de anunciar a palavra de Deus ali. Mas, os nazarenos eram presunçosos e concluíram por levar Jesus para fora, para o alto de um monte, para de lá o precipitarem. É interessante que eles não se incomodaram de tentar matar Jesus num sábado. O texto nos dá a entender que Jesus andou calmamente pela multidão sem ser molestado por ela. Como ele fez isso? Com o seu poder onipotente. O evangelista Mateus acrescenta que Jesus não pôde fazer sinais ali por causa da incredulidade deles. O texto conclui, dizendo que Jesus se retirou dali. Esse fato é dramático! Depois disso ele desceu para Cafarnaum e ensinava a palavra de Deus. Baseados no texto do evangelho, queremos meditar sobre o tema: Jesus vem ao nosso encontro.
O sermão de Jesus denunciou a situação de pobreza dos nazarenos. As palavras que leu dirigiam-se a eles. O seu convite de graça, misericórdia e amor também. Jesus os chamou – pobres, cativos, cegos e oprimidos - a virem a ele em sincera humildade e penitência. Qual foi a reação daqueles homens? Rejeitaram por completo a Jesus e ao seu convite. Mostraram seu coração arrogante, presunçoso, de quem não se acha pobre e carente diante de Deus, de quem pensa que não precisa do salvador. Jesus queria que a sua palavra se cumprisse não apenas nos ouvidos, mas nos corações daquelas pessoas. Infelizmente, seus corações estavam endurecidos. Qual a desculpa com a qual rotularam a sua incredulidade e rejeição a Jesus? Ele era Nazareno, conhecido de todos. A inveja, a arrogância e a dureza de coração daquelas pessoas vieram à tona. Eles estragaram o resultado das palavras de graça de Jesus, rejeitando-a totalmente.
Que atitudes nossas nos assemelham aos nazarenos do texto? O fato de não nos reconhecermos pobres, cativos, cegos e oprimidos, e não reconhecermos que Jesus vem ao nosso encontro para nos socorrer e ajudar. Por vezes, nossos corações são tomados de dureza, impenitência, incredulidade. Também, por vezes, rejeitamos o convite de Jesus de vir a ele vazios e nos colocarmos diante da sua graça para sermos por ela preenchidos. Impedimos que a palavra de Jesus se realize em nosso coração, deixamos de ouvi-la com reverência, atenção e regularidade, e nos escondemos atrás de desculpas, tentando diminuir nossa condição pecaminosa. Assim, também estragamos os resultados da palavra de Jesus.
Os nazarenos foram lembrados por Jesus que, seus antepassados, rejeitaram os profetas de Deus. O problema é que eles não estavam rejeitando a pessoa que prega a palavra, mas o próprio Deus. Também agimos assim quando não aproveitamos as oportunidades de ouvir a palavra de Deus, quando deixamos de vir a Igreja para participar dos cultos, quando deixamos passar momentos importantes nos quais Deus quer falar ao nosso coração pela palavra. Assim o povo de Nazaré, que tinha o Salvador diante dos seus olhos, fechou as portas para
a pregação de Jesus, e Jesus retirou-se dali. Por isso, não tinham que culpar ninguém, senão a si mesmos, caso a condenação lhes sobreviesse. Nós também temos o Salvador diante dos nossos olhos nas muitíssimas oportunidades que Deus nos dá de termos acesso à palavra e sacramentos, e se o rejeitarmos, não temos que culpar ninguém outro, senão a nós mesmos, caso a condenação nos sobrevenha.
Jesus foi a Nazaré com o propósito específico de anunciar a boa notícia da salvação aos nazarenos. Ele foi levar a mais excelente notícia aos pobres: Eles tinham, diante de si o Salvador, que veio libertar os cativos, dar a vista aos cegos, dar liberdade aos oprimidos e anunciar que a graça e o amor de Deus estavam ali, diante dos seus olhos. Essa mais maravilhosa notícia também vale para nós: Jesus vem ao nosso encontro! Aquele nazareno é o Salvador do mundo, que deu a sua vida para resgatar, livrar e salvar todos nós. A incredulidade e dureza de coração, tão comuns ao nosso coração, são arrancados pelo poder extirpador do perdão dos pecados, conseguido pelo Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. Ali estava o Verbo que se fez carne e que deu a sua vida à morte de cruz e ressuscitou para que os pobres, os cegos, os cativos, os oprimidos – todos nós – recebamos perdão, vida e salvação.
Jesus vem ao nosso encontro. Como ele faz isso? Através dos meios que ele escolheu: O Batismo, a Pregação da palavra de Deus e a Santa Ceia. Ele nos dá muitas e ricas oportunidades para termos acesso a esses meios: Cada culto, estudo bíblico, cada momento de leitura da palavra de Deus, é uma oportunidade extraordinária para ouvir o Salvador falar ao nosso coração. A maior motivação para virmos a Igreja e para mantermos um programa de leitura diária da palavra não é cumprir uma formalidade religiosa ou fazer boa obra para conquistar o favor de Deus; mas aproveitar da melhor maneira o momento rico de encontro com o nosso salvador; nós - pobres, cativos, cegos, oprimidos, - com o Salvador, que se fez pobre para nos enriquecer, que nos liberta de toda a escravidão que o pecado quer nos impor, que nos livra da cegueira da incredulidade e nos dá a liberdade das amarras do pecado que tanto nos oprimem e estilhaçam.
Assim, Jesus foi ao encontro dos nazarenos e manifestou a sua glória a eles. Eles o rejeitaram, e Jesus retirou-se dali. Jesus vem diariamente ao nosso encontro, na palavra e sacramentos. Qual será a nossa reação? Queremos acolhê-lo em sincera humildade, arrependimento e fé, suplicando que ele permaneça entre nós e realize em nós o seu trabalho: Perdoar nossos pecados, fortalecer a nossa fé, dirigir e guiar a nossa vida e equipar-nos para o serviço em seu reino. Que Deus nos ajude. Amém!
Rev. Silvio F. da Silva Filho
Igreja Evangélica Luterana do Brasil - Paróquia Paz de Vila Velha
Cristo para Todos - Compartilhando Experiências da Vida Com Deus
Vila Velha - ES
Obrigado caro colega.
Abraços,
Pr. Thiago Pacheco
sexta-feira, 22 de janeiro de 2010
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