quarta-feira, 22 de julho de 2009

A indumentária da moda

Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque limpais o exterior do copo e do prato, mas estes, por dentro, estão cheios de rapina e intemperança!
Mateus 23.25

Minha inspiração para este artigo foi a constatação de que hoje nós chegamos ao mais baixo nível de qualidade dos pregadores/as cristãos. Pessoas que não têm a mínima noção das Escrituras Sagradas tomam conta dos nossos púlpitos, das televisões de nossas casas, das ondas radiofônicas e impõe uma moda de pregação, na qual se percebe muitos gritos, muito apelo emocional, muitos erros gravíssimos de português, e pouca, ou melhor, pouquíssima qualidade dos sermões. Ah! Não posso deixar de mencionar as inúmeras, incontáveis repetições dos mesmo jargões, tão conhecidos por todos nós que temos um pouquinho mais de tempo na igreja.

Estou farto e cansado de ouvir tantas afirmações sobre as Sagradas Escrituras que não estão escritas nelas. Vocês já ouviram sermões baseados num determinado texto bíblico que não se relacionam em absolutamente nada com o texto bíblico lido? Se já, bem vindo ao time daqueles e daquelas que prestam atenção na leitura e explanação da Palavra de Deus e que, criticamente, consideram as afirmações que são impostas como verdades absolutas.

Recordo-me, com saudade, da afirmação de um homem de Deus que ao ser nomeado para a reitoria de uma renomada universidade, recusou o título de “magnífico reitor”, pois segundo ele: “Magnífico, somente o meu Jesus”. Sei que ele não desprezava o título, nem mesmo a posição alcançada, afinal, como disse Rui Barbosa: “Humildade sim. Falsa modéstia, não!”

Todavia, muitos dos pregadores e pregadoras da moda reclamam para si a uma posição de intimidade com Deus e relacionamento com o Criador dos céus e da terra que, segundo eles, pode ser alcançada pela mediação deles e delas. Questiono-me: Não foi contra isso que a Reforma Protestante lutou? O que aconteceu com o Sacerdócio Universal de todos os crentes?

Jesus, advertindo os escribas e fariseus, criticou-os em razão deles manterem o exterior exemplar, mas o interior em constante processo de deterioração. Aqueles que deveriam ser o “exemplo dos fiéis” eram os primeiros a deturpar os princípios do Evangelho e do Reino de Deus.

Pergunto-me: O que será da Igreja de Cristo nos próximos anos? Infelizmente eu não sei! Uma coisa eu sei, se for para seguir essa moda: Eu estou fora! Prefiro entregar minhas credenciais e abandonar o ministério pastoral a me amoldar à moda e pregar palavras de persuasão humana, acrescidas de gritos, berros, e apelos emocionais.

A indumentária da moda parece boa aos olhos, assim como os pratos preparados pelos escribas e fariseus. Contudo, são, internamente, podres. Que Deus nos livre da indumentária da moda e ouça o clamor do Seu povo, que chama pelo Seu nome: Aviva Senhor a Tua obra no meio dos anos! Sara os nossos púlpitos!

Abraços, Pr. Thiago Pacheco

terça-feira, 14 de julho de 2009

Ainda ontem

Meus avós Eliseo e Terezinha são um exemplo do amor verdadeiro que venceu inúmeros obstáculos para se concretizar. Eles viveram juntos por 51 anos. Meu avô tinha prazer em contar a história deles e começou a escrever um livro. No dia 16/05/09 meu avô, Eliseo Loureiro, foi promovido para o lar celestial. Num dia desses, antes de dormir, pensando no sofrimento de minha avó, crendo na força que vem de Deus para superarmos esse momento, compus essa música.

AINDA ONTEM

Ainda ontem tu estavas comigo
Ouvi tua voz, beijei o teu rosto
Deitei no teu colo, me deste um afago
Te dei um sorriso, me olhou com ternura

Lembramos histórias dos tempos de outrora
O primeiro encontro, as cartas de amor
Agora, saudades...
A casa vazia...
Ferida aberta, será que vai curar?

Nós fomos felizes e isso me conforta
Mas como vou viver sem você comigo?

Manhã de domingo... te espero arrumada
Mas você não está ali pra me acompanhar
As cores sumiram da minha aquarela
As notas fugiram do meu violão
Está tão difícil acordar e não te ver

Oh Deus, me dê forças pra sobreviver
Me sinto sozinha, triste e prestes a esmoecer
Me acode com teu carinho, tua doce voz
Me ajude a enfrentar o medo que me assombra
Caminha comigo, guiando os meus passos
Levanta meus olhos, segura minhas mãos
Só Tu és meu amparo nessa escuridão.



Essa é a esperança que temos, que Deus nos fortalece e nos sustenta nesses momentos tão difíceis, crendo que um dia nos encontraremos novamente. Um beijo, Miriam

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Serviço de utilidade pública

Amigos/as,

essa não é uma postagem reflexiva, mas uma sugestão e conselho.

Ao realizar qualquer financiamento evitem fazê-lo com a BV Financeira.

Procurem outras financeiras.

Abraços,

sábado, 11 de julho de 2009

Vida – um presente cotidiano

“No meio da sua praça, de uma e outra margem do rio, está a árvore da vida, que produz doze frutos, dando o seu fruto de mês em mês, e as folhas da árvore são para a cura dos povos.” Apocalipse 22.2

Atualmente, a palvra “cotidiano” recebe várias interpretações pejorativas, como: algo rotineiro; inerte; entediante. Todavia, a palavra também tranmite uma percepção de algo que se revela no dia-a-dia, que constantemete se manifesta e renova.

O texto bíblico de Apocalipse 22.2 nos traz essa percepção. A vida é uma dádiva que brota freqüentemente e que produz cura aos povos. Essa cura é exposta nas vertentes de reestabelecimento da saúde, mas também, no serviço prestado a alguém. Essa vida é um estado no qual o indivíduo está cheio, repleto de vitalidade, plenamente ativo; a vida que devota de Deus.

A vida, como presente do cotidiano, não é algo que vem do dia-a-dia, que se repete enfadonhamente, é, todavia, a expressão do cuidado diário de Deus. A renovação da plena vitalidade que nos enche e nos ativa corpo, alma e espírito (como já disse, não faço aqui uma tricotomia, mas uma distinção pedagógica) para desfrutar de tudo o que Deus nos dá para sermos felizes, alegres, completos. É essa renovação diária e vivificante que nos cura e restaura em nós a saúde emocional, psicológica, existencial e física.

Vale lembrar, que essa cura é ampla e nos impele a servir às pessoas ao nosso redor. A cura de Deus em nós nunca é intimista, mas, um dínamus que nos impele a servir ao nosso próximo, auxiliando-o em suas necessidades, como co-autores da vida manifesta de Deus.

A árvore da vida é de margem a margem do rio. O relato de João nos ajuda a perceber a magnitude da vida que nos alcança e nos ativa a aproveitar os momentos maravilhosos que Deus nos dá. Somos chamados/as a viver com toda a intensidade e alegria o cotidiano da vida que Deus nos dá, manifesta em nós e através de nós. O fruto contante e as folhas da árvore expressam o ideal de Deus - nos vivificar, assim como toda a humanidade, num processo mútuo de restauração da saúde holística e do cuidado universal.

Que essa experiência diária, cotidiana, vivifique em nós a alegria da vida e da salvação, e, também, nos motive a fazer o bem às pessoas, a tempo e fora de tempo.

Abraços,

Pr. Thiago Pacheco

A cidadania como espaço de liberdade e ação no mundo público

O texto em questão trabalha o imaginário de uma fé cidadã, e de um sujeito cidadão que é ativo e não passivo.

Esse sujeito é estimulado a pensar apaixonadamente, e perceber que não há oposição entre a vida e o espírito, assim como entre a razão e a paixão. Dessa forma, o problema da falta de possibilidades de pensar livremente, ou seja, o Totalitarismo (regime ditatorial), oriundo do capitalismo, e também do socialismo, perde força, dando espaço e dinamismo ao esforço cidadão.

Segundo Hannah Arendt: “O espaço público é o lugar da palavra e da ação”. Isso promove o desenvolvimento de três atividades mentais fundamentais: o querer, o pensar e o julgar. Para ARENDT, a definição de liberdade é pública e ampla, ainda diretamente rela-cionada à política, ao contrário do que a filosofia moderna expõe, uma liberdade individual. A liberdade política só tem significado quando ela é expressa. A liberdade não parte dela para a ação, mas ao contrário. No contexto religioso, essa definição surge primeiro com o apóstolo Paulo, e depois com Agostinho.

Segundo o texto, a liberdade só existe na relação com o outro. A coexistência em so-ciedade é que permite a percepção do conceito de liberdade. A ação é um fundamento para a fé cidadã e a pastoral da cidadania.

O labor é a atividade humana que mais se aproxima dos animais irracionais. O trabalho é a sinalização às gerações futuras de que aqui estivemos. A ação é a representação da inter-relação das pessoas sem a mediação de objetos. O caráter revelador da ação não é só um som, um gesto, mas o agir que vem acompanhado do discurso. Na ação revela-se o caráter da pessoa. A ação é a distinção entre os iguais. A teia de relações humanas e a coragem para inserir-se no mundo. Nossa existência influencia a das outras pessoas.

Referência Bibliográfica

CASTRO. Clóvis. Por uma fé cidadã. A cidadania como espaço de liberdade e ação no mundo público. São Bernardo do Campo: Editeo, 2005. p. 37-73

terça-feira, 7 de julho de 2009

O Desafio do Mundo Moderno

E tu, Daniel, fecha estas palavras e sela este livro, até ao fim do tempo; muitos correrão de uma parte para outra, e a ciência se multiplicará

O texto base desse resumo crítico se baseia no quarto capítulo de Keelling M., em sua obra Fundamentos da Ética Cristã: O Desafio do Mundo Moderno .

O texto apresenta um panorama histórico sobre o avanço da modernidade em diversos âmbitos, assim como, as dificuldades encontradas pelo ser humano para lidar com esse avanço, em especial, sobre como colocar em prática as ideologias modernas em prol do bem estar comum. A ética cristã é apresentada como ponto de análise e reflexão sobre as ponderações do autor, bem como sobre as abordagens filosóficas de Immanuel Kant e David Hume. São apresentadas, também, algumas posições mais “administrativas” de Adam Smith e Max Weber, inclusive sob aspectos econômicos.

O texto é muito rico e denso, em razão disso pode, numa primeira análise, mostrar-se de difícil compreensão, porém, como o próprio autor destaca: “O desafio que o mundo moderno lança à fé e à vida cristã é contundente e incontornável”.

O processo de observação do mundo natural é destacado como fonte abrangente da ve-rificação da manifestação de Deus no processo histórico, mas, de forma contundente, não o maximiza a ponto de ser considerado um deus.

O autor apresenta a perspectiva desse processo na visão do Antigo Testamento, na qual o ser humano é apresentado como mera criatura e não o apogeu da criação, inclusive, sofrendo interpelações de Deus acerca de seus questionamentos. Deus foi considerado durante muito tempo o sustentáculo da criação e o responsável por seu funcionamento, mas, com o advento da compreensão de nossa capacidade cognitiva, as respostas à ordem natural das coisas deveriam vir: “do próprio pensamento humano”.

Com isso, sob a influência crítica de Descartes, o ser humano foi estimulado a sempre partir de uma posição mais cética e pautar suas compreensões pelo método empírico. Somado a isso, o século 18 agregou uma profunda repulsa à reflexão aprofundada sobre Deus, impulsionando o ser humano a trabalhar sob o foco de múltiplas áreas de interesse que advém de sensações ou de lembranças delas. Esse processo subjetivou as impressões acerca de Deus e suas manifestações, tornando os estudiosos religiosos mais céticos, como nota-se nas ponderações de Hume: “a religião e amoral religiosa não têm outro fundamento que as sen-sações próprias da experiência humana”.

Com Immanuel Kant, a autonomia da razão exacerbou ainda mais o foco na razão humana, insistindo que essa é capaz de lidar com os conteúdos da experiência sensorial. Ele destaca duas conseqüências:

Primeira: toda ação que emana da vontade de fazer o que é bom deve ter tal coerência moral que possa ser erguida em princípio universal, válido para todos os demais seres racionais. (...) A segunda e que todos os seres humanos são ‘pessoas’ no sentido de agentes morais racionais.

O processo de alteração na modalidade do pensamento individual e coletivo das soci-edades continuou se orientando sobre as perspectivas filosóficas da modernidade. Esse pro-cesso progrediu com o advento da revolução industrial e a reforma protestante que destacaram a magnitude do progresso e da vivência “religiosa-contemplativa” no exercício do dia-a-dia, do cotidiano. Sob esse aspecto, destacou-se no âmbito religioso, João Calvino, influenciando os cristãos a pensarem e se esforçarem pela salvação e pelo sucesso nos negócios.

A riqueza passou a seu considerada resultado do esforço humano, o que originou as-sistencialismo mínimo aos pobres como expressão filosófica, ideológica e teológica do que é certo, ou seja, buscar o sucesso e riqueza pessoais, mas, de alguma forma, “ajudar” os menos favorecidos.

Surge então, o conceito de que “os processos humanos (...) não eram mais governados por Deus” . A racionalidade de Kant, as observações evolutivas de Darwin e as descobertas genéticas de Crick e Watson fragmentaram ainda mais o conceito judaico-cristão do Antigo Testamento da soberania de Deus e de sua característica sustentadora da criação como um todo.

Mas, em contrapartida, o autor apresenta sua percepção do que deve ser a posição ética cristã que apresenta que o sentido da existência e vida humanas são parte integrante do propósito maior e, unicamente, relacionado com a soberania de Deus.
O texto é denso e requer atenção em sua leitura, porém, ele desenvolve de forma muito coerente as diversas posições e evoluções sofridas pela sociedade e a humanidade, assim como pela criação, no decorrer dos últimos 4 séculos.

REFERÊNCIAS

BÍBLIA. Português. Bíblia sagrada. Tradução de João Ferreira de Almeida. 2 ed. São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 1993. Edição revista e atualizada no Brasil

KEELLING, M. Fundamentos da Ética Cristã. São Paulo: Aste, 2002, p. 143-180

domingo, 5 de julho de 2009

AMA E FAZE O QUE QUISERES

O anúncio de um novo homem, “a uma nova criatura em Cristo”, é a primeira e fundamental resposta da fé cristã ao problema ético.

O último texto dessa seqüência de resumos críticos nos traz uma inquietação logo em seu título: Ama e fazes o que quiseres! Tal afirmação, imediatamente, nos direciona ao sentimento de se estar “entre a cruz e a espada”, afinal, se dizemos que amamos, mas fazemos o mal, sob a afirmação acima, podemos ser questionados se realmente amamos. Por outro lado, se amamos somos, naturalmente, impulsionados a pensar no outro e aí: Como fazer o que quiser?

Segundo o autor, a problemática tem seu cerne na incompatibilidade das ações da hu-manidade cristã, com os dogmas teológicos e filosóficos que ela defende como regra de conduta e fé. Para o autor, José Bonino: “Houve cristãos nazistas e antinazistas; há os socia-listas e capitalistas; uns rejeitam e outros aceitam o divórcio (...) O comportamento do “novo homem” não parece, portanto, suficientemente determinado”. Assim sendo, por falta dessa determinação levantada pelo autor, como podemos esperar que haja, também, uma congruência de idéias e ações relativas à ética? Seria essa esperança uma mera utopia demagoga?

BONINO apresenta algumas pistas aos questionamentos anteriores, ao elencar os pa-radigmas do amor como A Obediência à Lei de Deus. Ele os apresenta como qualidades intencionais e ativas, que alicerçam os relacionamentos interpessoais e intrapessoais do se humano. Jesus Cristo, paradigma central, nos aponta a direção desse amor: o próximo. Sob esse fundamento primeiro, a Lei emerge como diretriz ao iluminar o caminho do amor, traduzindo-o como: honra, justiça, respeito, proteção, restituição, liberdade etc.

Visto que Jesus era, terminantemente, contrário ao legalismo, o Apóstolo Paulo e as demais epístolas do Novo Testamento nos ajudam a entender melhor o papel da lei como “palavras do Senhor” . Cremos que a própria expressão por si já revela a profundidade e amplitude do conceito. Todas essas abordagens são, na verdade, formas de elencar as quali-dades, ou, como alguns textos do Novo Testamento apresentam, as obrigações e virtudes dos crentes. “As virtudes são ‘frutos do Espírito’” e, essas virtudes, são consideradas a maneira de reconhecer aqueles e aquelas que foram associados à nova classe de vida que é oferecida por Cristo.

Apesar de tudo isso, como é que se percebem tantas diferenciações entre o que os/as cristãos/as devem fazer e o que eles/as normalmente fazem? Como decidir pelo que é correto? “O cristão é uma pessoa integrada em uma unidade que o inclui” , logo, ele deve pautar suas ações sob o imaginário coletivo. Dessa forma, traçando suas decisões do coletivo para o individual, suas ações serão eticamente coerentes.
Essa coerência vislumbra Cristo no exercício da constituição e guia da comunidade; além da presença ativa do Espírito Santo, que auxilia na compreensão e interpretação dos paradig-mas do amor.

Amas e fazes o que quiseres! Sob a perspectiva do autor, não é uma frase que gera te-mor, mas que inspira e motiva os/as cristãos/as, sob os ensinamentos de Jesus e a ação di-namizadora do Espírito Santo, a refletir e pautar seus pensamentos e suas ações nos padrões éticos do Reino de Deus; transmitindo-os, partindo do comunitário para o individual, gerando vida abundante para todos.

“A vida é, para o cristão, um caminho (...) não é uma simples obra de sua criatividade (...) trata-se de uma aventura de fé.” . Sobre esse alicerce, a fé cristã pode responder aos di-versos problemas éticos que a contrapõe de forma sábia e vivificante.

REFERÊNCIAS
MIGUEZ BONINO, José. Ama e faze o que quiseres. São Bernardo do Campo: Imprensa Metodista, 1982. p. 87-118.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

A CONSTRUÇÃO DO SUJEITO ÉTICO

¿Dónde está la justicia de infligir los males más severos a quienes no nos han hecho ningún mal? (John Wesley)

O presente resumo se propõe a trabalhar a temática da ética, baseado no texto do Prof. Dr. Rui de Souza Josgrilberg: A constituição do sujeito ético. Para isso, iniciamos citando o fundador do movimento metodista em uma de suas reflexões. Sobre tal questionamento po-deríamos deferir diversas interpretações, mas, vislumbrando a ótica da ética, parece-nos plausível dizer que essa, em seu sentido mais amplo, está diretamente relacionada à justiça e promoção da vida plena, de toda a criação.

O professor JOSGRILBERG inicia seu texto delimitando alguns termos importantes para a compreensão plena de seu artigo, são eles: sujeito, sujeito ético e sujeito ético cristão. Tais apontamentos permitem que as opiniões do autor, acerca da ética, sejam mais bem compreendidas e, claramente, assimiladas.

Segundo o autor: “sem o outro não somos nada”. Com essa afirmação, ele inicia suas ponderações acerca da constituição do sujeito e nos remete à questão: É possível ser considera-do sujeito sem essa relação social/comunitária? Segundo o dicionário Houaiss, sujeito é: “pes-soa indeterminada ou cujo nome não se diz; que se submete ao poder ou à vontade dos ou-tros”. Sob a definição semântica da palavra poderíamos defender a posição de que um sujeito é uma pessoa (um ser humano), mesmo que esse não esteja em processo de relacionamento com ninguém mais que si mesmo. Por outro lado, ao submeter-se ao poder ou vontade alheia, a relação social se estabelece, ainda que, não desejamos entrar no mérito da questão, essa relação seja não-saudável. Mas, sendo assim, por que então o autor levanta a afirmação acima?

Para JOSGRILBERG, nossas heranças fisiológicas, psicológicas, culturais e religiosas vêm do outro. Logo, herdamos tudo das relações que se estabelecem desde que somos gera-dos. Refletimos nossos pais, familiares, amigos e instituições. Somos, portanto, o outro, por assim dizer. Seria um equivoco afirmar isso? Segundo o autor, poderíamos pensar que tal afirmação não é equivocada, já que ele diz: “O desenvolvimento está condicionado à presença de outros”. Se tal relação é intrínseca e inseparável, a priori, poderíamos, certamente, dizer que somos nada mais nada menos que o reflexo do outro, ou dos outros.

Porém, esse viés de pensamento induz a um erro, afinal, somos, como sujeitos, seres pensantes e autônomos (capazes de determinar as próprias normas de conduta), em nossas tomadas de decisões. Isso se percebe na afirmação de JOSGRILBERG, ao dizer: “o sujeito ético avalia (grifo próprio) a partir de um mundo com universalidade abrangente (...)”. Por-tanto, o sujeito ético se forma na relação, avaliação e re-elaboração, com o outro, mas, também, consigo mesmo. Poderíamos então sintetizar essas questões, dizendo que: o “conjunto de preceitos sobre o que é moralmente certo ou errado” forma-se na re-significação constante das relações interpessoais do sujeito ético consigo mesmo e com as demais pessoas.

Emerge, então, a questão acerca do sujeito ético cristão. Para JOSGRILBERG, esse sujeito deve, de igual maneira, ser analisado como parte integrante do enredo de relações, mas, com pressupostos fundamentados nas narrativas bíblicas. Para ele, as narrativas bíblicas formam o terreno de organização de muitos egos através do tempo e da história. As relações de identidade engendram uma “colcha de retalhos” cultural, política, econômica e religiosa na vida cotidiana das pessoas. Portanto, a expressão ética, do sujeito ético cristão se dá à medida que a experiência transcendental corre, através da relação desse sujeito com Deus.

Retornado ao questionamento de WESLEY: Por que então deferir pesados ataques maléficos contra quem não nos fez nada? Segundo JOSGRILBERG, em seus apontamentos sobre a construção do sujeito ético, isso se dá pela má formação e re-significação da ética e suas vertentes. Isso permanece pela indiferença dos sujeitos éticos cristãos, que pautados pelas relações pessoais consigo, com as pessoas ao seu redor, com Deus, e pelos parâmetros das Escrituras Sagradas, não exercem mudança de mente na sociedade que os cerca.

Por fim, a construção do sujeito ético se dá no aprofundamento amplo das diversas re-lações interpessoais desse sujeito, pois: “a grande tarefa da ética não se reduz às condições de responsabilidade individual, mas à criação de uma sociedade responsável.”

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Sistematização teológico-pastoral: a sabedoria popular e a teologia contemporânea

O estudo da Teologia Contemporânea, assim como, da Sabedoria Popular são áreas que devem permear as reflexões teológicas e pastorais de teólogos e teólogas no século XXI. Pensar na reflexão sistematizada que emerge de grupos, ainda, minoritários e, tradi-cionalmente, considerados aquém dos referências de estudo teológico, é uma das formas de se manter viva e reafirmar a suma filosófica de Descartes – Penso, logo, êxito. Pensar na reflexão, aparentemente, não sistêmica que emerge sob o pano de fundo da sapiência popular, é manter viva e reafirmar a suma teológica dos ditos de Jesus, citado, por exemplo, em Mateus 11.25: “Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque ocultaste estas coisas aos sábios e instruídos e as revelaste aos pequeninos” .

Esse trabalho se propõe a relacionar alguns dos temas abordados na matéria Teologia Contemporânea, com algumas questões, concretas, da realidade eclesial e social do autor, vivenciadas nos últimos 6 meses, e, também, algumas abordagens e perspectivas do autor, em seu trabalho de conclusão de curso.

Teologias contemporâneas e a Sabedoria popular

Quem espera que a vida seja feita de ilusão, pode até ficar maluco ou morrer na solidão. É preciso ter cuidado pra mais tarde não sofrer. É preciso saber viver! Toda pedra do caminho, você pode retirar. Numa flor que tem espinhos, você pode se arranhar. Se o bem e o mal existem, você pode escolher. É preciso saber viver!
A poesia da música de Roberto e Erasmo Carlos, tão felizmente regravada pelo grupo Titãs, é um excelente exemplo de que a sabedoria popular, ainda que não reconhecidamente, sistematiza seus pensamentos filosóficos, teológicos e existenciais. Refletindo a racionalidade iluminista, a letra da música alerta, de forma bem humorada, seus apaixonados “seguidores”, que o sofrimento é um fator inerente à existência humana, mas que “saber viver” é algo que pode ser aprendido.
O autor César S. Camargo, em seu artigo O Evangelho Social: aspectos históricos e teológicos, afirma que: “Uma religião intimista, centralizada no indivíduo e abstraindo-se do seu meio social real jamais poderia, segundo o evangelho social, alcançar uma dimensão globalizante da existência humana.” . Tal afirmação nos permite compreender que a exacer-bação do antropocentrismo, assim como, das experiências místicas, não são meios de se saber viver.

Algumas das novas percepções e sistematizações teológicas, como as Teologias Femi-nista e Negra, emergem com grande força, e, em geral, oriundas do clamor popular por i-gualdade de direito e respeitabilidade. Discutir, teologicamente, o papel da mulher, as ques-tões de gênero, a problemática do racismo e demais pontos relacionados a estas, consolidam o estudo da teologia contemporânea. Tais assuntos podem ser vislumbrados nos meandros da sapiência popular, assim como, em suas estratégias de ensino: o humor e a ironia.

Utilizando-se das ferramentas do lúdico, as teologias contemporâneas podem galgar seu espaço nas discussões teológicas, assim como, fundamentarem-se como fontes respeitáveis do estudo teológico.

Em seu livro Ministérios Femininos em Perspectiva Histórica - Duncan A. Reily relata que: "Para muitos, o ponto crucial da questão de ministérios femininos é a questão da ordenação e ministração no altar. No XXI Sínodo da Igreja Episcopal no Brasil, o bispo Sumio Takatsu e o Rev. Glauco S. de Lima propuseram a ordenação da mulher às três ordens, entendendo que o “Espírito Santo invocado pela igreja na ordenação, dado ao ordenado, capacita tanto o homem como a mulher a exercer o ministério na comunidade da Igreja” e que “não se pode negar a uma mulher presidir à assembléia que celebra a vitória de Cristo(...), a Eucaristia, a Santa Comunhão”.

Ainda que decisões conciliares, sinodais e congregacionais sejam tomadas em favor da plena inclusão da mulher nos mais diversos âmbitos religiosos/institucionais, na prática, no dia-a-dia, as mulheres continuam a sofrer discriminação, bem como, seu direito de voz, é cerceado pelo forte pensamento androcêntrico, em âmbitos sociais, organizacionais e, infelizmente, teo-lógicos, que tomam conta de nossa sociedade.
O senso comum , ou a sabedoria popular, é uma forma de se transmitir conhecimento e experiência acumulados com o passar do tempo, sob a perspectiva do aprendizado mútuo e coletivo. Segundo Anthony R. Ceresko há duas razões:" A primeira delas tem a ver com a sabedoria dos “sem voz”, as pessoas que não são parte da instituição regente; (...) cujo status social os impedia de serem ouvidos. (...) Uma segunda questão sobre a sabedoria no mundo antigo requer estudos adicionais. A erudição crítica, centrada na Europa e no Ocidente, tende a ignorar a própria tradição da Bíblia, segundo a qual a sabedoria vem do Oriente.

O autor ainda ressalta que as mulheres, a despeito do esmagador caráter patriarcal das sociedades antigas, têm relevância nesse processo de formação sapiencial, devido ao seu envolvimento, como mães, na formação educacional dos filhos e filhas. Dessa forma, elas auxiliaram nos processos de internalização e transmissão dos valores morais, éticos, religiosos e educacionais. Para o autor, a Bíblia preserva uns poucos indícios disso, em textos como o de Provérbios 10.1: O filho sábio alegra a seu pai; Mas o insensato é a tristeza de sua mãe.

É necessário que os estudos acadêmicos possam ir além dos processos históricos de condição da mulher e das discussões e desenvolvimento de estratégias para a emancipação da mulher. As discussões devem ser caracterizadas pela “experiência do cotidiano, pela expressão de marginalização e opressão em vários níveis do cotidiano e pela experiência que passa pelo corpo, pela pele, pelo coração e pela sexualidade das mulheres” .

Os negros também sempre estiveram em situação desfavorável diante da majoritária “massa branca” que, até hoje, domina os cargos mais altos das instituições religiosas, assim como, das igrejas. Sua reflexão teológica é, freqüentemente, posta à margem, devido ao preconceito racial. O testemunho do Rev. Juracy José Sias Monteiro, em seu livro Minha vida, meu ministério – exemplifica uma dessas situações: “Havia uns bobinhos ignorantes que tinham preconceito de cor. Chegaram, entre si, a fazer gracinha, perguntando se no púlpito não havia uma árvore para o macaco trepar” .

Para Ezequiel Luiz de Andrade: “Comentar sobre o Pensamento Teológico Negro é falar necessariamente a partir do povo negro”. A Bíblia relata, de forma bem humorada, a presença do negro. É possível perceber que, em razão do preconceito, a palavra é negra é substituída por “morena”, e o verbo é alterado de ser, para estar. Esse relato está em cantares 1.5-6: Eu estou morena e formosa, ó filhas de Jerusalém, como as tendas de Quedar, como as cortinas de Salomão. Não olheis para o eu estar morena, porque o sol me queimou. Os filhos de minha mãe se indignaram contra mim e me puseram por guarda de vinhas; a vinha, porém, que me pertence, não a guardei.

O relato bíblico demonstra a ironia em que a discussão a respeito da cor da mulher é fundamental para se compreender o texto, bem como, para se desfazer a leitura discrimina-tória, e muitas vezes velada, que é realizada em nossas comunidades de fé.

Concluindo, as Teologias Contemporâneas e a Sabedoria popular têm muito a agregar às sistematizações teológico-pastoral, que realizamos nos dias atuais. É importante re-ler as Escrituras Sagradas sobre essas óticas que emergem de grupos minoritários e excluídos, pois, tais leituras nos levarão a ampliar nosso campo de visão teológico, assim como, nos permitirão trabalhar de forma mais eficiente e eficaz a inclusão de todas as pessoas, nas comunidades de fé e na própria sociedade.